Monday, September 01, 2014

A rã (Três Fábulas Monterrosianas)


Nada irritava tanto a rã mais pequenininha do brejo quanto ser confundida com uma perereca. "É rã!", ela dizia, cerrando os dentes, toda vez que a confundiam. Um domingo de manhã ela estava no brejo vizinho pegando umas moscas pro almoço quando passou por uma família de pererecas sobre uma vitória-régia. "Nossa, que perereca enorme!", exclamou uma delas. A rã estava prestes e xingar e exibir o dedo médio, mas os comentários das outras foram mais rápidos. "Uau, deve ser ótimo ser uma perereca tão grande!!" "Incrível!" "Mãe, mãe, se eu comer bastante mosca eu vou ficar desse tamanho?"
Na segunda, bem cedo, a rã fez as malas e se mudou para o brejo vizinho, onde é tratada com todas as deferências devidas à maior perereca já vista, às quais ela responde com azedume e rispidez, dedicando as piores patadas às pererecas mais pequenininhas.


Antonio Prata é escritor. Publicou livros de contos e crônicas, entre eles 'Meio Intelectual, Meio de Esquerda' (editora 34). Escreve aos domingos.
Retirado de: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2014/08/1505123-tres-fabulas-monterrosianas.shtml

A Coruja (Três Fábulas Monterrosianas)

A coruja estava no forro do telhado, lendo Proust, quando entrou a andorinha, ofegante. "Nossa, andorinha, que animação...", comentou a coruja, sem tirar os olhos do livro. "Ah, dona coruja! Tô voltando da minha primeira viagem pelo mundo! Eu cruzei a Amazônia e os desertos mexicanos, vi o sol se pôr atrás dos picos nevados dos Andes, fiz amor no céu vermelho da aurora, sobre o mar azul do Caribe!" "Veja só", disse a coruja, passando saliva na pata e virando a página 987 do livro. "Em Manaus, você foi no teatro Amazonas, claro." "Não...", respondeu a andorinha, "mas eu voei com as araras e...". "Poxa vida", cortou a coruja, "Não foi no teatro Amazonas... E no México? No México, pelo menos, você visitou o museu de antropologia, né?". "Na verdade, não...", admitiu a andorinha, se encolhendo entre as asas. "Não visitou o museu de antropologia?! Desculpa, andorinha, mas você não-foi-pro-Mé-xi-co! Só falta me dizer que depois dos Andes cê não passou por Buenos Aires, pra tomar um chá com medialuna num daqueles lindos cafés europeus." "Na-não", confessou a andorinha, com um fio de voz, então pediu licença e foi fazer seu ninho, angustiada, crente que quem sabia das coisas era a coruja, que seguia lendo Proust -agora, com um sorriso no rosto.

Antonio Prata é escritor. Publicou livros de contos e crônicas, entre eles 'Meio Intelectual, Meio de Esquerda' (editora 34). Escreve aos domingos.
Retirado de:http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2014/08/1505123-tres-fabulas-monterrosianas.shtml

O Porco-Espinho (Três Fábulas Monterrosianas)


Era uma vez um porco-espinho que adorava a balada. Toda noite ele ia a festas, clubes ou raves, onde fazia o maior sucesso com seu visual loucão -era muito cool ser amigo de um porco-espinho. Um dia ele acordou às seis da tarde, como de costume, e percebeu que vários dos seus espinhos haviam se soltado durante o sono. O porco-espinho procurou um dermatologista, que constatou carência de vitamina D e recomendou banhos de sol pela manhã. Acontece que o porco-espinho era incapaz de acordar cedo e decidiu não abrir mão das baladas, mesmo sob o risco de ficar careca. Quanto mais caíam seus espinhos, porém, mais escasseavam os convites para as noitadas: o que gostavam no porco-espinho era justamente o seu visual loucão, cheio de espinhos. Hoje, ninguém mais o chama pra nada, as hostess o barram na porta, ele vaga sozinho noite adentro e atende pelo nome de gambá -quando atende, pois, geralmente, se alguém se aproxima, ele exala amargura e corre pro mato.

Antonio Prata é escritor. Publicou livros de contos e crônicas, entre eles 'Meio Intelectual, Meio de Esquerda' (editora 34). Escreve aos domingos.
Retirado de:http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2014/08/1505123-tres-fabulas-monterrosianas.shtml

Monday, July 27, 2009

Coisas de Meninas

Rosa, amarelo bebê,
papéis boladinhos,
ternos carinhos,
segurar o nenê,
pintar as unhas,
fazer comidinha,
usar lacinhos
dizer eu amo você...
Quanta besteira estou a dizer
já é hora de acomodar
que nada mais separe
o meu eu de você
Seja menino ou menina
a vida é perfeito prazer!!!

Anjos
















Três anjos alegres
perdidas as asas
trocaram por flores
e procuram aparas
de ternos amores

Que o dia termina
e principia a valsa
o baile a dança
que mesmo descalça

São flores abertas
não há um botão
que sejam os anjos
os olhos do coração.

Monday, July 06, 2009

A vaquinha




















Que vaquinha sapeca
chamada Boneca
de lenço vermelho
com pequenas bolinhas
no grosso pescoço!
É hora do almoço!
E com o touro Mocho
lá vai bem faceira
pela ribanceira
num grande alvoroço:
vai ficar noiva
nas águas de março
da doce Guanabara.

Tuesday, April 21, 2009


Um gatinho ronrona,
Ele quer cama..
Um gatinho mia,
Ele quer maresia...
Um gatinho unha,
Ele quer pupunha...
Um gatinho salta,
Ele quer a ribalta...
Um gatinho lambe,
Ele quer ... não achei rima,
por isso vou cair na piscina!!!


O que vai na tampa do baleiro?

Wednesday, November 28, 2007

O lagarto

Fui eu pegar um caminho para apreciar a velha ponte e parei nas árvores que estalaram logo mais abaixo um enorme lagarto. Mostrou-me a lingua desafiou-me e corri para a liberdade. Ali não mais volto. Era enorme o bicho.

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Saturday, October 27, 2007

Sunday, August 19, 2007

Das coisas que retornam...

É sempre bom lembrar que passarinhos batem asas em nossos pensamentos e nos deixam perplexos diante das coisas mínimas da vida. Ao bater asas passarinhos despertam em nós o sabor de poder acordar para novos dias.