Monday, September 01, 2014

O Porco-Espinho (Três Fábulas Monterrosianas)


Era uma vez um porco-espinho que adorava a balada. Toda noite ele ia a festas, clubes ou raves, onde fazia o maior sucesso com seu visual loucão -era muito cool ser amigo de um porco-espinho. Um dia ele acordou às seis da tarde, como de costume, e percebeu que vários dos seus espinhos haviam se soltado durante o sono. O porco-espinho procurou um dermatologista, que constatou carência de vitamina D e recomendou banhos de sol pela manhã. Acontece que o porco-espinho era incapaz de acordar cedo e decidiu não abrir mão das baladas, mesmo sob o risco de ficar careca. Quanto mais caíam seus espinhos, porém, mais escasseavam os convites para as noitadas: o que gostavam no porco-espinho era justamente o seu visual loucão, cheio de espinhos. Hoje, ninguém mais o chama pra nada, as hostess o barram na porta, ele vaga sozinho noite adentro e atende pelo nome de gambá -quando atende, pois, geralmente, se alguém se aproxima, ele exala amargura e corre pro mato.

Antonio Prata é escritor. Publicou livros de contos e crônicas, entre eles 'Meio Intelectual, Meio de Esquerda' (editora 34). Escreve aos domingos.
Retirado de:http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2014/08/1505123-tres-fabulas-monterrosianas.shtml

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